Louvor da paz. Como lidar com os inimigos da paz.
Amar a paz é possuí-la.
Louvor da paz. Como lidar com os inimigos da paz.
1. Agora é o tempo de vos exortar a amar a paz com toda a força que o Senhor vos dá, e a rezar ao Senhor pela paz. Que a paz seja nossa amada, nossa amiga; que vivamos com ela nos nossos corações em união pura; possamos com ela saborear um sono cheio de esperança, uma comunhão sem amargura. Sejamos verdadeiros amigos da paz. Que ela nos abrace com sua doçura…. Aqueles que amam a paz devem ser elogiados. Aqueles que odeiam a paz não devem ser provocados com censuras: é melhor começar a acalmá-los com ensinamentos e com a estratégia do silêncio. Aqueles que amam verdadeiramente a paz também amam os inimigos da paz. Tomemos um exemplo: vós que amais esta luz visível, não vos zangueis com os cegos, mas tendes respeito por eles. Percebe-se o bem que se desfruta, o bem que lhes falta, e vê-se que merecem respeito. De facto, não os devemos condenar; pelo contrário, se tivéssemos a possibilidade de os curar, pela arte médica ou por um medicamento eficaz, apressar-nos-íamos a fazer algo para os curar.
Portanto, se amas a paz, quem quer que sejas, tem compaixão por aqueles que não amam o que tu amas, por aqueles que não possuem o que possuis. O objeto do vosso amor é de tal natureza que não traz inveja daqueles que partilham convosco a mesma posse. Aquele que possui a mesma paz que tu possuis não diminui a sua posse. Se desejas um determinado bem terreno, é difícil não provocar alguma inveja àqueles que o possuem mais do que tu. Mais ainda, se por acaso te ocorrer partilhar a tua propriedade com um amigo para alcançares uma reputação de homem bom ou para manifestares o amor fraterno nas suas necessidades atuais, se por isso desejas partilhar com um amigo os teus bens, seja uma quinta, uma casa, ou algo do género, deves precisamente partilhá-lo com ele, deves desfrutá-lo em comunhão com ele. Se quiseres receber em tua casa mais uma terceira ou uma quarta pessoa, deves ter em atenção quantos cabem na casa e concluir: um quinto já não cabe, um sexto não pode viver connosco, não cabem. E se vier um sétimo, dirás: ‘Como pode uma propriedade tão pequena sustentar mais gente?”. Pela própria limitação dos bens, e não por tua vontade, és obrigado a excluir os demais. Em contrapartida, se amas, guardas e possuis a paz, podes convidar tantos quantos quiseres a partilhar deste bem. De facto, os seus limites alargam-se quanto mais cresce o número daqueles que a possuem. Uma casa terrena não pode abrigar mais do que um certo número de habitantes, mas, quanto à paz esta cresce em proporção ao número de pessoas que a desfrutam.
Amar a paz é possuí-la
2. Que coisa boa é amar! Amar já é possuir. E quem não gostaria de ver crescer o que ele ama? Se quiseres ter apenas alguns poucos partícipes da paz, terás uma paz muito limitada. Mas se quiseres ver esta sua posse crescer, aumente o número de possuidores. Como é verdade que amar a paz é possuir um bem e que amá-la já é possuí-la! Não há palavras adequadas para exaltar a paz, não há sentimentos adequados para meditar sobre esta coisa extraordinária que é amar e possuir a paz… A compra deste tesouro não requer qualquer preço. Não é necessário ir em busca de um fiador para o alcançar. Aí está onde tu estás: basta que ames a paz, e ela está contigo. A paz é um bem do coração e é comunicada aos amigos, mas não como o pão. Se quiserem dar pão, quanto mais pessoas o partirem, menos têm para dar. A paz, em contrapartida, é semelhante ao pão do milagre que cresceu nas mãos dos discípulos ao partirem-no e distribuírem-no.
Pe Duarte Melo